Após 7 anos, a longa noite enfim terminou.
E cá estou eu novamente sentado em uma pilha de destroços.
Outra vez tentando colar os cacos em algo que fosse minimamente eu.
Dessa vez, contudo, é diferente.
Hoje sou eu soterrado sob os escombros. Que eu mesmo empilhei.
No afã de ser aceito, enterrei a parte de mim que mais alto gemia. Que me dava todos os sinais de alerta que eu escolhi não ouvir.
Tinha que dar certo. Tinha.
Agora sou o arqueólogo solitário dessa expedição maldita.
Após a mais longa das noites... tentando descobrir como viviam os povos antigos.
O povo antigo. James Cleverson McBryan. Não sou eu, mas eu era.
Vaguei pelos antigos registros do Youtube.
Músicas que antigamente me atravessavam como se eu fosse imaterial,
como se fosse feito de sonhos.
Vídeos que me tocavam fundo a ponto de doer.
Rememorações em cada esquina.
E nada me atingia. Como uma brisa ao tocar o concreto,
o vento mais pertinaz contra a carapaça mais resistente.
Eu era nada.
Sentia nada.
Sentia só.
Queria poder chorar a isso, mas mesmo essa sensação me era estranha.
Era um vazio profundo e desprovido de estrelas.
Como um escoteiro tentando acender uma fogueira extinta
feita com lenha molhada.
Mas em dado momento me veio uma peça de sabedoria antiga,
e ela veio em forma de um mantra:
"When there's nothing left to burn, you must set yourself at fire."
Eu era um técnico respeitável no meio de um escritório no meio da tarde.
E, de repente, não era mais isso, não era mais eu, sabia quem era.
Eu era o Fogo Telúrico que ardia no coração do mundo.
Eu era a Fera que gritou "Eu!" no coração do mundo.
Eu era um fugitivo em busca de paz.
Desci ao fumódromo. Chovia. Estava vazio.
Eu já ouvira muitas confissões assim, hoje quem se confessava era eu.
"When there's nothing left to burn, you must set yourself at fire."
E o mantra bateu. Como se fosse um mundo caindo de sobre meus ombros.
E era.
Eu chorava.
E fumava.
As lágrimas rasgavam-me o rosto, se confundiam com a chuva e
irmanadas continuavam a descer através de mim.
Eu era a chuva, as lágrimas e o desespero.
Eu era o choro recém-nascido da Terra.
Era uma infindável coleção de sonhos
e uma imutável esperança.
E mesmo naquele momento, eu era feito de apenas um desejo:
Que seja eu sempre assim,
que assim seja.
Sou James Cleverson McBryan
Discípulo da Terra e do Fogo
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