Eu morri.
Morri quando morreu em mim uma forma de pensar.
Contrapus-me à minha dor e criei sofrimento em mim e nos meus.
Pois minha chaga era incurável, pois a dor era inesquecível.
Eu escolhi sofrer.
Acreditei que minha ferida deveria ser curada, extirpada, negada.
Mas era profunda demais, e já se havia tornado eu, e o eu tornado
dor se ocultava sob os mantos da indiferença e do distanciamento.
Permiti me tornar menor. Ao extirpar o pretenso tumor, arremessar
para longe a parte de mim que mais alto gemia. Mas a dor pulsava,
pulsava com um coração que ainda era meu, que eu não mais queria.
E a dor me ensinou. E ao escutá-la, abracei-a.
E ao abraçá-la aprendi mais sobre mim mesmo.
Utilizei minha medicina e minha dor foi a guia.
Eu renasci. Quando tornei-me um novo eu.
E sobre os escombros do que fui, erigi de novo
um prédio que fosse mais firme que o antecessor.
Sou não apenas eu. Sou a conjunção de diversas feridas,
de diversas alegrias, de um sem-número de sonhos e de uma sempre
imutável esperança. E que assim seja enquanto eu viver.
E que assim seja para sempre.
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