sábado, 28 de março de 2020

Sábado à noite



Chegou o sábado à noite depois de uma semana corrida.
Trabalho duro no escritório, ainda que de home office.
Trabalho duro em casa, limpeza de todos os cômodos 
minuciosamente feita.

Passeio com os cães, eles estão sem creche agora.
Fazer exercícios porque eu estou sem academia 
e o Mundo não pode parar, nem eu.

Só que chegou sábado à noite.
Mercado, trabalho, limpeza, passeio, exercício, tudo feito.
E por mais que o mundo não possa parar... 
ele dá uma pausa no sábado à noite.

E agora José?
E agora você?  
Você que é sem nome, 
que zomba dos outros
você que faz versos,
que ama, protesta?

A gente está tão acostumado a sobreviver
que não aprendeu a viver.

A gente quer nessa hora fazer uma lista de tarefas, 
de coisas que vão nos acontecer no futuro,
todas visando sobrevivência.

E a gente descobre que a sobrevivência já foi garantida
por hoje... a luta foi vencida.  E não há nada que você possa
fazer para melhorar o fato de que você... vai continuar vivendo.

Nós estamos acostumados a dar braçadas para manter a cabeça fora d'água
E agora estamos à orla da praia, saboreando as ondas.

Agora a gente quer tocar violão, a gente quer ler um livro, a gente quer jogar
a gente quer ver TV.

A gente quer ACONTECER.  A gente quer viver.
Todas as coisas que nós prometemos, que nós ameaçamos e não fizemos.
Todas se encavalando no nosso armário.
Todos os sonhos pedindo para existir ao mesmo tempo, de uma só vez.

A gente comprou suco, a gente comprou lambrusco, 
a gente comprou cerveja, comprou chá!
E a gente quer tomar tudo ao mesmo tempo!

Existir de tantas formas, de tantos jeitos.
Tantas pessoas querendo existir no espaço de uma encarnação.
Nao apenas uma de cada vez, mas todas em uníssono 
levantando sua voz na escuridão da noite, 
na solidão dos tempos.
Fazendo-nos companhia.

É Outono.  
E aqui é a Oficina dos Sonhos da Casa das Luzes Furtadas.
Onde nos assentamos entre a luz e a escuridão.
Na penumbra de nós mesmos
esperando o novo dia nascer.

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