sábado, 2 de novembro de 2019

Passos no Sótão



Ouço passos no sótão.
Passos rápidos, ora hesitantes, ora assustados
Tudo está escuro nesse quarto
nada há para se ver
Eu ouço os passos do sótão.

No meu quarto sem janelas
só existe essa cadeira.
Amiga fiel e companheira
Nada se ouve ou se enxerga
Apenas os passos do sótão.

Ao passos do sótão correm,
param, recomeçam,
São meus próprios passos no sótão
pisando sobre a minha cabeça

Alguém com botas sujas
andando pelo canteiro
O aparelho de barba usado
jogado no chão do banheiro
Meus próprios pés me pisam
e não posso impedir que isso aconteça.

Ouço batidas na porta,
os passos no sótão pararam.
O mundo deve estar aí fora,
querendo fazer ameaças.
As batidas na porta recomeçam,
quebrando a harmonia dos passos.

Defenderei essa cadeira,
com todas as minhas forças.
Darei minha vida por ela,
guardarei-a do frio da noite.

O mundo não há de entrar aqui,
por mais que isso me dê sequelas.
Mas, se mesmo assim entrar,
o fará as apalpadelas.
Tropeçando em coisas mortas,
chutando tralhas diversas.

Quando o mundo estiver aqui dentro,
há de seguir minhas regras.
Não pisar nos sonhos desfeitos,
nem machucar minha cadeira.

O que querem aqui que já não tenham lá fora?
Aqui só existo eu, minha cadeira e a porta.
Não há flores, não há cores.
Só uma natureza morta.

A porta se abre com um estrondo,
há passos no sótão assustados.
O mundo aproxima-se lento,
esgueira-se pelo assoalho.

Os passos no sótão estão apavorados.
Não parem, por mais que isso os machuque.
Para fora do sótão, correm os passos.
Um pouco mais... um pouco mais...

Os passos no sótão tropeçam.

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